Tratou-se de um período febril de actividade motivada pelo sentido de urgência que visava reunir testemunhos da maior diversidade de povos e culturas, expressão esta que veio a ser o título dado à primeira grande exposição, num pavilhão tomado de empréstimo, realizada por esta equipa e pelo Museu (Povos e Culturas, 1972). As instalações deste foram mudando até que o edifício, construído de raiz, é inaugurado em 1976, com a exposição Modernismo e Arte Negro-Africana no âmbito da realização, em Lisboa, da reunião da Associação Internacional dos Críticos de Arte.
Percebe-se como aquele contexto de urgência obrigava a recorrer a diferentes soluções – compra, doação, transferência entre instituições, recolha – para a constituição do acervo do Museu e que, por isso mesmo, tantas vezes teve de prescindir da documentação e informação que tornassem mais sólido o seu conhecimento e maior o seu valor museológico. No entanto, quanto ao território continental português, a condução ininterrupta e sistemática da pesquisa no terreno permitiu a constituição de colecções de extrema importância para o conhecimento do país e para a solidez científica de uma instituição museológica. De facto, são estas que mais longe foram quanto às exigências metodológicas de investigação, com os objectos a serem identificados, inquiridos, seleccionados em função de um quadro amplo de representatividade, diversidade e singularidade em que vieram a ser inseridos e divulgados tanto nas exposições quanto nas monografias e catálogos publicados. Temos, assim, que o Museu Nacional de Etnologia, de algum modo rompendo com uma tradição europeia que diversificava os museus segundo a área geográfica da sua incidência (etnografia local, etnografia exótica), foi pensado pelos antropólogos que esboçaram a sua concepção inicial como espaço de representação da diversidade de culturas e sociedades em que conviviam o próximo e o distante, os objectos recolhidos em Portugal, no Sudeste Asiático, na Amazónia ou em África.
A investigação conduzida no âmbito do Museu Nacional de Etnologia é marcada pela articulação da disciplina que o funda, a antropologia, com a realidade de uma instituição que conserva, documenta e divulga os objectos à sua guarda. É no campo vasto da museologia etnológica que se definem linhas de pesquisa em torno do inventário e informatização das colecções, dos usos da imagem no museu, da constituição e programa de acção dos arquivos, da documentação no terreno de colecções pré-existentes, da constituição de novas colecções, e dos problemas conceptuais e metodológicos em torno da proposta e preparação das exposições temporárias. Sendo estas a dimensão mais presente junto dos públicos, são também elas sempre tomadas como campo de reflexão antropológica sobre as práticas museológicas. Do ponto de vista da sua organização interna, em relação a todos estes aspectos o museu apresenta-se como um espaço de formação em que se combinam estágios de iniciação à investigação, para nacionais e estrangeiros, acolhimento de investigadores visitantes e projectos articulados com instituições museológicas ou de ensino.
A história do Museu Nacional de Etnologia é indissociável da história da antropologia em Portugal e uma parte importante das suas realizações é expressa no vasto conjunto de publicações que tem promovido.